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Trump, Bolsonaro e a era da insensatez - Por Flavio Siqueira
07/11/2020 21:30 em Textos
O que seria do populismo se não fosse a pobreza?
A miséria, a fome, o fantasma do desamparo sempre serviram de legitimação para o culto a personalidades como Getúlio Vargas e Lula, por exemplo.
Sem a dor ou a fome eles não teriam os "filhos" e consequentemente seus discursos manipuladores.
Foi na era Vargas que a figura do "pai dos pobres" teve origem e, com o tempo, especialmente em países miseráveis como o Brasil, boa parte da américa latina e África foi se desenvolvendo e tornando a base de sustentação de quase todos os projetos de poder.
A exemplo dos caricatos coronéis da política nordestina, quanto mais pobreza em volta, mais força concentrada.
Atualmente essa lógica está muito evidente no crescimento das igrejas neopentecostais que se expandem em países com baixa cultura e altos níveis de necessidades básicas.
De um lado a pobreza, de outro o explorador/construtor de sonhos, seja na figura do político, do pastor, ou de quem se coloque nesse "santo" lugar. Uma coisa alimenta a outra.
No entanto o desgaste gerado por esse perverso jogo de promessas e esperanças têm produzido outro fenômeno claramente evidenciado em figuras como Trump e Bolsonaro: O caos como sustentação e fator de engajamento permanente.
Acrescente-se as dinâmicas das redes, o controle de linguagem como o chamado "politicamente correto" e a deliberada guerra do "nós contra eles" formou-se o cenário ideal para uma nova categoria de excluídos, antes os pobres, hoje qualquer um que se sinta a margem de um mundo que não para de mudar.
Os ora excluídos ganharam voz na internet, uma causa para chamar de sua e um líder para representá-los na "guerra pela verdade".
"Temos que mudar tudo o que está aí", foi o principal mantra de campanha de Bolsonaro em 2018.
Não era necessário projeto, propostas, debates, bastava a encarnação de um sentimento de mudança.
Tanto faz se o inimigo for o globalismo, a China, os governadores, a vacina, o supremo, a imprensa ou o sistema eleitoral, tudo é periférico diante do vital combate a um inimigo que una a tropa em torno do líder em trajes messiânicos, como na boa e velha cartilha do bem contra o mal.
Nesse regime as ideias não interessam. Vale a devoção de corpo e principalmente alma.
Não que o maniqueísmo seja novidade na política. Os populistas da pobreza sempre foram hábeis no discurso "nós contra eles" recentemente tão disseminado por Lula como veneno que agora corrói qualquer tentativa de bom senso.
Exaltaram as massas.
Os líderes atuais deixaram de ser meros vendedores de esperança, mas compulsivos geradores de caos. Eles não sobreviveriam a paz e sabem disso.
No caso das eleições americanas, Trump tem consciência de que, mesmo perdendo a presidência, se fortalecerá jogando combustível e gerando divisões.
É a lógica da guerra que alimenta as paixões e é isso que ele continuará fazendo para sustentar-se como figura relevante no cenário político mundial.
Estou longe de desconsiderar ameaças em um mundo muito complexo e cheio de interesses, certamente nada é tão simples e ninguém é inocente.
Creio que, exatamente por isso, mais do que o caos e as conspirações como sustentação de projetos de poder é urgente serenidade para pacificar os ânimos.
Mais do que nunca é hora de promovermos reconciliação em busca de objetivos comuns e esse não é um movimento das massas, nem de presidentes, mas de indivíduos que, apesar de tudo, não precisam de deuses (nem de diabos) e persistem na lucidez.
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